segunda-feira, 27 de março de 2017

Como trazer um cheirinho de Portugal para Santiago?

Erasmus +
AULAS DE PORTUGUÊS
27 de Março de 2017

Como trazer um cheirinho de Portugal para Santiago?


Uma experiência única para mim, aulas interactivas para eles!

     O Professor Marcos Vence lançou-me um desafio - ensinar um grupo de entusiastas galegos a falar Português. E eu, como boa patriota e apaixonada pela língua materna que sou, não pude rejeitar. Entusiasmei-me tanto que comecei logo a preparar aulas giras. Queria mostrar-lhes tudo o que temos de melhor. Não me faltaram ideias! Então assim foi. Todos os domingos à tarde dediquei-me a revisitar o meu país, desde o meu cantinho em Santiago de Compostela. Às vezes ficava tão entretida que não dava pelo passar das horas, a cantar fado ou rock’n’roll português, ao mesmo tempo que editava material para as aulas.

     No meio da confusão do meu dia-a-dia, fazendo malabarismo entre aulas para ir, aulas para dar, horas de estudo, exames da faculdade e outras coisas, corria sempre com um enorme sorriso para a escola. Confesso que não podia querer melhores alunos, uns mais novos, outros mais velhos que eu, mas o que importa é que estavam muito motivados. Entrando a falar Português e fazendo-me de desentendida quando me respondiam em galego, corrigindo os erros de pronunciação por conflito de semelhança entre as duas línguas tão próximas lexicalmente, aprendendo mutuamente (tanto eu como eles) vários “falsos amigos”, cruzando as poucas diferenças que existem, acabamos por nos divertir bastante, rindo dos erros sistemáticos e tentando melhorar sempre.

     Revisitamos Portugal em todo o seu esplendor. Desde a gastronomia típica a deixar água na boca, passámos por locais fantásticos para visitar de norte a sul, cantamos canções com letras poéticas e inspiradoras, visualizamos cenas de filmes antigos carismáticos da nossa cultura e documentários sobre a nossa História riquíssima, lemos contos, poemas e crónicas dos nossos ilustres autores. Com tanta paixão e orgulho em ser Portuguesa, foi impossível não transmitir o bichinho durante estas aulas. Tenho a certeza que os meus alunos ficaram cheios de apetite para provar um bom bacalhau, ou uma francesinha, ou um pão-de-ló. Que gostariam de visitar a baixa do Porto, as caves do vinho, as margens do Douro Vinhateiro, a cidade de Lisboa e provar um pastel de Belém, a ria de Aveiro (a Veneza de Portugal), acampar nas montanhas do Gerês, extasiar com as paisagens das ilhas dos Açores e muito mais! A maior parte não conhecia música e cinema Português, que apesar de não sairem muito além fronteiras, têm um estilo muito próprio, emocional, poético, com o encanto certo entre o sofrimento da tragédia e a alegria da vida. Ouvimos desde Zeca Afonso, António Variações, Carlos Paião, Dulce Pontes, Simone de Oliveira, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo, Amália Rodrigues, Mariza, Rui Veloso, Pedro Abrunhosa, Jorge Palma, GNR, Xutos e Pontapés, Ornatos Violeta, Tiago Bettencourt, Mafalda Veiga, João Pedro Pais, Amor Electro, Azeitonas, Deolinda, etc. Vimos cenas dos clássicos “Pátio das Cantigas” e a “Canção de Lisboa” com o mítico Vasco Santana. Vimos documentários e gravações originais sobre o 25 de Abril. Vale bem a pena ver e ouvir para conhecer o nosso povo. Assim como a nossa História mostra. Pois apesar do “triste fado”, fomos dos povos mais aventureiros, inovadores e lutadores pela nossa liberdade. E continuamos a ser. Com a nossa coragem, curiosidade e paixão pela vida. O que se nota bastante na vasta literatura que herdamos, com uma língua tão rica nas palavras e com uma melodia tão sonante. Lemos em conjunto, palavra por palavra, contos tradicionais populares, artigos actuais de blogs bem escritos e publicados, contos infantis de Sophia de Mello Breyner, crónicas de Saramago, António e Nuno Lobo Antunes, poesia revolucionária, poesia filosófica, poesia de amores e desamores, com Fernando Pessoa, Florbela Espanca, António Gedeão, Manuel Alegre, José Régio, etc.

     A verdade é que quantas mais aulas houvessem, mais podia mostrar sobre Portugal. De forma lúdica, interactiva, descontraída e, acima de tudo, motivada, tenho a certeza que não faltariam temas interessantes para as aulas. Espero assim, ter conseguido trazer um cheirinho de Portugal para Santiago de Compostela.


Ana Magalhães

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